Este fonograma data de 1 de Março de 2018, foi efectuado no Teatro Académico de Gil Vicente, em Coimbra, e trata-se do excerto dum concerto sinfónico da Orquestra Académica de Coimbra, sob a direcção de André Granjo, que nos oferece aqui uma das obras-primas da música sinfónica portuguesa, que durante muitos anos tem vivido no mais vergonhoso esquecimento.
Trata-se do poema sinfónico “O Terramoto de Lisboa”, da autoria de Armando José Fernandes, uma obra encomendada em Dezembro de 1961 pela Câmara Municipal de Lisboa, juntamente com outras obras como “A Sinfonia dos Jerónimos” de Frederico de Freitas, “O Aqueduto das Águas Livres” de Wenceslau Pinto, "A Vela Vermelha" de Jorge Croner de Vasconcelos e “As Giestas de Monsanto” de António Victorino d’Almeida, e que relata na Anatomia da Orquestra Sinfónica o que foi uma das tragédias mais significativas da História de Portugal.
O Sismo de Lisboa de 1755, ocorrido no Dia de Todos os Santos, dia 1 de Novembro, resultou na destruição quase completa da cidade de Lisboa, especialmente na zona da Baixa, e atingiu ainda grande parte do litoral do Algarve e Setúbal, seguindo-se depois um maremoto, que se crê ter atingido a altura de 20 metros, e incêndios múltiplos, tendo feito certamente mais de 10 mil mortos, segundo os números oficiais da época, mas há quem aponte muitos mais. Os sismólogos estimam que o sismo de 1755 atingiu magnitudes entre 8,7 a 9 na escala de Richter.
O Terramoto de Lisboa foi um dos sismos mais mortíferos da história, marcando o que alguns historiadores chamam a pré-história da Europa Moderna, e teve um enorme impacto político e socioeconómico na sociedade portuguesa do século XVIII, dando origem aos primeiros estudos científicos do efeito de um sismo numa área alargada, marcando assim o nascimento da sismologia moderna. O acontecimento foi largamente discutido pelos filósofos iluministas, como Voltaire, inspirando desenvolvimentos significativos no domínio da teodiceia e da filosofia do sublime.
Esta é a sua descrição orquestral, através do poema sinfónico de Armando José Fernandes, numa obra que foi estreada oficialmente pela Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional, dirigida por Frederico de Freitas, que nunca mais foi escutada em concerto nenhum do nosso panorama sinfónico, durante mais de 50 anos.
Desta obra, só existe um exemplar na Biblioteca Nacional de Lisboa, que foi exemplarmente recuperado por André Granjo, que efectuou esta sua 2ª apresentação pública há precisamente 4 anos, com a Orquestra Académica da Universidade de Coimbra.